26 novembro 2016

O SOLDADO e não o presidente, é quem nos garante a INDEPENDÊNCIA E SOBERANIA NACIONAL

25 NOVEMBRO
VIVA PORTUGAL!
Tributo
COMANDOS SOLDADOS DA PÁTRIA

– «No Verão Quente, uma minoria esmagava a maioria do Povo Português. Todos eram impotentes para a travar. [...]

Em Agosto de 1975, o Coronel Jaime Neves chamou-me e ao 'comando' Victor Ribeiro, ao Regimento de Comandos, e transmitiu-nos na parada, de braço dado connosco, as suas apreensões e as que lhe eram comunicadas por quem detinha o poder político-militar na época, em relação à situação vivida na altura. Dizia-nos que aquelas entidades viam, talvez como única alternativa, possivelmente a guerra civil.
As Unidades não tinham praticamente comando. Nenhum comandante podia dizer, então, que uma ordem dada às suas tropas ia ser cumprida a 100%. Havia assim a hipótese da guerra civil.
Surge o Decreto-Lei, a convidar ao regresso à efectividade do serviço militar, dos antigos combatentes, isto é, todas as tropas especiais.
Os comandos foram os únicos que responderam. Em cerca de dez dias, fizemos entrar no antigo Regimento de Comandos, duas companhias de convocados. A partir daí, julgamos que apenas o Comandante do Regimento de Comandos e o Comandante do Regimento de Cavalaria de Estremoz, poderiam afirmar poder dar ordens a 100% e serem cumpridas.
Utilizar-se-iam aqueles que se mantinham fiéis ao 25 de Abril, à liberdade e à democracia e que iriam para o Norte, onde a maioria do Povo ainda estava firme e onde se tinham desenrolado as acções, já referidas neste colóquio, através da Igreja e da vontade da maioria das gentes do Norte. Depois teríamos que avançar para o Sul.
Lisboa, a bacia de Setúbal e parte do Sul estavam a saque da referida minoria. Naquela situação, a missão da Associação de Comandos era ficar nesta zona de Lisboa, fazendo acções de sabotagem em consonância e às ordens da cadeia militar instituída e a quem estávamos ligados. Já nessa altura, a Associação de Comandos iria ter, talvez, a parte mais gravosa do problema. E também nessa altura dissemos presente!
Queria recordar alguns factos históricos, de somenos importância e que as pessoas talvez não se lembrarão:
- A entrada dos convocados no Regimento de Comandos e a sua mentalização para poderem dar a vida pela liberdade e pela democracia.
- O fim das ADU's no Regimento; e o 20 de Novembro, quando fomos ao AMI e informámos o seu Comandante Brigadeiro Melo Egídio, através do nosso Comandante Coronel Jaime Neves, que dávamos 48 horas ao Governo para passar a exercer o seu poder político. E não me esqueço daquele nosso Brigadeiro ter dito ao nosso Coronel, "Jaime nunca me tinha dito que tinha tanta força".
- A ida ao Forte de São Julião da Barra, à reunião do Conselho da Revolução, para apoiar o então Primeiro-Ministro Almirante Pinheiro de Azevedo.
- A tentativa de aliciamento falhada dos pára-quedistas regressados de Angola, para que entrassem no golpe.
Há outro aspecto muito importante e de que ninguém fala: a ida do material desses pára-quedistas para o Norte.
O Coronel Jaime Neves entrou no Regimento cerca das 22 ou 23 horas, e disse-me: "A PM está toda na rua a caminho do Norte, para 'sacar' o material dos páras, que veio de Angola. Há que fazer qualquer coisa". Agarrámos em 40 comandos da Companhia de Comandos 121 e fizemos parar a PM. Em paz e em diálogo, como agora se diz... Não terá sido um diálogo de palavras, mas suficiente para funcionar. Conseguimos que esse material fosse para a Região Militar Norte. A PM regressou toda ao seu quartel com as G3 viradas para o ar, quando passava junto de nós.
É também interessante recordar que, nessa noite, enquanto o Coronel Jaime Neves andava numa viatura civil com mais dois ou três comandos, a verificar como decorriam essas movimentações da PM, e eu me encontrava com um Grupo de Combate junto à Presidência da República e à PM, onde dispersei em poucos segundos uma dessas manifestações que se faziam na época, fui chamado ao Sr. Presidente da República, que me deu ordens para retirar a tropa. Ao que eu, respeitosamente, lhe respondi que não retiraria, sem receber ordens do meu Comandante.»¹

¹ (José Manuel Ferreirinha de Sousa Gonçalves [29Mai1943-14Fev2009], serviu no Ultramar em 28Mai65-11Set67 como alferes miliciano 'comando' na 2ªCCmds; excertos da sua comunicação "Nas operações do 25 de Novembro", proferida na SHIP em 21Nov1995, por ocasião da comemoração promovida pela Associação de Comandos, relativa ao 20º aniversário do "25 de Novembro")

Cpts,
JCAS